O que é ecoespiritualidade?
Apresentando suas várias facetas
"Em nenhum lugar, Ocidente ou Oriente, vivem os homens uma vida natural, ao redor da qual os cipós se agarrem, e o salgueiro voluntariamente lhe dêem sombras. O homem a dessacraliza com o seu toque, de modo que a beleza do mundo permanece escondida sob um véu para ele. Ele não só necessita ser espiritualizado, mas naturalizado, sobre o solo da terra" – Henry Thoreau
A citação acima é do poeta, escritor, naturalista e filósofo transcendentalista americano Henry David Thoreau (1817 - 1862). Me toca profundamente a afirmação de Thoreau de que o homem precisa ser naturalizado, com mais urgência do que espiritualizado. É preciso espiritualizar as propostas eco, as disciplinas, a vida. Mas é muito urgente naturalizar os espiritualistas.
Naturalizar, não se resume àquele processo em que um cidadão de um país requer a cidadania de outro. Essa é outra naturalização. A naturalização verdadeira é aquela em que nos tornamos naturais com a terra, a natureza inclusive a nossa natureza íntima.
Leslie E. Sponsel, professor emérito de Antropologia da Universidade do Havaí em Mānoa e autor de livros e artigos sobre a ecoespiritualidade afirma que a ecologia espiritual explora, de um lado as interfaces entre diferentes religiões, diferentes espiritualidades com diversas ecologias e, de outro, ambientes e ambientalismos diferentes. Parte de sua pesquisa na Tailândia se apoia na ecologia budista na maneira da religião ver a natureza com destaque para as cavernas sagradas associadas ao budismo. Ele trata disso no livro Spiritual Ecology a Quiet Revolution (Ecologia Espiritual – uma Revolução Silenciosa 2012).
Sponsel destaca como exemplo na vertente ambientalista associada a organizações religiosas iniciativas como as do Patriarca Bartolomeu I de Constantinopla, líder da comunidade cristã no oriente que conquistou respeito nas discussões ambientais mundiais como o aquecimento global e que valeu a ele o apelido de “Patriarca verde” com assento em fóruns mundiais tudo baseado na visão da Igreja sobre o cuidado com o Planeta. Ou o Papa Francisco, por meio da encíclica Laudato Si (Louvado Seja), que coloca a justiça, o clima e a proteção do Planeta, o nosso lar comum, como uma das obrigações dos cristãos.
Esses exemplos são na área de alto voo político sobre a proteção dos ecossistemas da terra. Porém a ecologia espiritual ou espiritualidade verde abarca outras áreas e atores trabalhando o aspecto mais pessoal. Terri MacKenzie é uma freira da Sociedade do Santo Menino Jesus (Society of the Holy Child Jesus) e ela tem uma papel muito importante em divulgar e oferecer recursos como vídeos, literatura, treinamentos sobre a ecoespiritualidade segundo uma visão ativista católica cristã.
Os muçulmanos não ficam de fora da ecoespiritualidade. No caso dos Estados Unidos um site da organização Green Faith (Fé Verde) uma entidade que conta com a participação de lideranças de diferentes religiões que defendem a necessidade de um novo modelo chamado Green New Deal (Novo Pacto Verde) que é descrito como uma “proposta de um mundo que seja movido pelo amor, justiça e compaixão em vez de basear-se unicamente em energia suja, trabalhos que pagam pouco e a degradação ambiental”. As diferentes fés (religiões) veem harmonia entre a espiritualidade e o trabalho para preservar o meio ambiente e a criação. O site da Green Faith traz, como uma exemplo, uma seção dedicada à ecoespiritualidade aplicada aos muçulmanos com sugestões de atividades de adoração, de celebração dirigida aos sheikhs e lideranças.
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Monges marcam árvores para proteção e anotam dados
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Um Parque Nacional Budista
O conceito de ecologia budista dentro da ecoespirualidade é interpretado pelo monge cambojano, o venerável Bon Saluth para quem preservar florestas é parte do sacerdócio de um monge.
"O Buda nasceu de baixo de uma árvore na floresta, meditava de baixo de uma árvore na floresta, ele atingiu a iluminação de baixo de uma árvore na floresta e morreu de baixo de uma árvore na floresta. Você pode dizer que a floresta é a casa do Buda. E já que os monges são considerados filhos de Buda, nós temos a responsabilidade de proteger a casa do Buda”, explicou o monge Saluth ao jornalista Nathaniel Adams da World Faiths Development Dialogue (WFCD – Diálogo para o Desenvolvimento das Fés do Mundo, em tradução livre).
E o venerável faz isso da maneira mais ao pé da letra possível. Ele conseguiu que o governo criasse a floresta da Comunidade dos Monges do Templo Samrong Pagoda na Província de Oddar Meanchey, no Camboja. A reserva tem status de Parque Nacional com mais de 18 mil hectares. Isso não quer dizer que a vida seja um mar de flores. Setores mais conservadores são contra e afirmam que a missão de monges não tem nada a ver com proteção de florestas.
Apesar de tudo o que foi dito a ecoespiritualidade existe por si só em uma faixa do espectro da ligação com a Natureza que é autônomo. Nessa faixa, ecoespiritualidade é uma cosmovisão que une ecologia e espiritualidade. Mas une somente no sentido ilusório da visão fragmentada. Na prática, essa ecoespiritualidade vê ecologia e espiritualidade como a mesma coisa.
Nessa introdução não abordamos todos os Livros Sagrados, todas as religiões até para o texto não ficar muito extenso. Mas tudo isso será abordado no decorrer de nosso trabalho na divulgação, vivência e práticas ecoespirituais.
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