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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Espiritualidade brasileira, tendência à tolerância e síntese

Quem vier, de onde vier, que venha em paz!

(Texto republicado)
 
Escrevo nesta quarta-feira, 23 de março, noite de Lua Cheia do Cristo de 2016. Existem muitos Brasis - inclusive um deles que está em crise que é o Brasil criado à imagem e semelhança da Europa. Me refiro à herança religiosa, católica ou protestante, via Estados Unidos, nosso sistema de governo, econômico e financeiro, nossa cultura e idioma oficial entre outras coisas de origem e inspiração europeias. 

Mas existe um Brasil misturado, construído de baixo para cima, por pessoas humildes  e discriminadas pelo Brasil Europeu. É um Brasil que herdou uma espiritualidade que até hoje continua fora dos holofotes do Grande Brasil e que navega às margens (marginais) do talvegue (talweg)  do Grande Rio da Existência Nacional, onde todos, sem exceção, navegamos em diferentes graus de consciência disso. 



Experiências e técnicas sociais equivocadas de conquista, colonização e ocupação das terras do Novo Mundo utilizaram ferramentas mais equivocadas ainda. Uma delas, a mais dolorida foi a escravidão. De índígenas capturados, por exemplo, em terras do que hoje é Paraná e levados para as lavouras de São Paulo até o comércio de homens e mulheres capturados na África no que hoje conhecemos como o grande tráfico de escravos. 

Dentro dos planos e contextos puramente humanos e terrestres, tudo isso foi um desastre social com consequências e resultados que se mantêm até os nossos dias na forma de desigualdades sociais, preconceitos, racismo, xenofobismo e intolerância. Destaco, que isso acontece no contexto "puramente humano", do lado não muito digno de elogio do "humano". Refiro-me ao humano no sentido de um ser encapsulado pela ilusão.

Entretanto, no contexto multidimensional, nesta dimensão e em outras, a situação do Brasil é diferente. A reunião desumana de homens e mulheres negros e negras de várias nações africanas forçou a existência de novas maneiras de se associar, de ver o mundo, de proteger, produzir, sobreviver e falar. Daí nasceram a capoeira, por exemplo, como uma dança e uma arte de defesa ligada à religiosidade africana misturada. Ocorreu a necessária reorganização das práticas das religiões africanas. 

Os homens e mulheres livres da África trazidos para o Brasil foram jogados em terras que já tinham donos - as centenas de etnias nativas e originais conhecidas erroneamente como "índios". O encontro nem sempre foi pacífico mas africanos e originais tiveram que conviver com patrões e capatazes dominantes e construir toda uma relação de serviço e trabalho.

No lado espiritual da existência, ao contrário, dos afazeres terrestres e civis esta tragédia resultou em uma das maiores experiências religiosas do Planeta. O nascimento de uma religião brasileira. O catolicismo europeu trouxe uma visão de mundo europeia, um conceito europeu de Deus, de santos, santas e profetas.  

O africano trouxe uma visão de mundo africana notadamente aquela baseada no culto aos Orixás. Os "índios" já tinham suas diferentes visões de mundo completas com histórias da criação, conceito de divindade, protetores, cura e uma ecologia espiritualizada que orientava a vivência. 

grande sacada do universo, da espiritualidade, do outro lado foi a aparição no planeta da "umbanda" - uma religião brasileira que adotou a visão do cristão, dos orixás dos africanos e abriu lugar na "espiritualidade" para trabalhadores de todas as raças e culturas existentes no Brasil. A espiritualidade brasileira no além é rica, diversa e solidifica o princípio do que foi dito: o que ligares na terra será ligado no céu.

Os trabalhadores, no além (além do físico),  se juntaram em grupos dirigidos pela espiritualidade formado por diferentes grupos ex-humanos segundo as vivências que tiveram:  índios e índias, caboclas e caboclos, boiadeiros, vaqueiros, escravos e escravas velhas, crianças e também de outras etnias e povos que se juntaram ao processo da criação e efetivação dLaboratório Brasil incluindo ciganos e ciganas, árabes, chineses, indianosíndios e índias da América do Sul, Central, do Norte e esquimós. Entraram também na lista trabalhadores de nações indígenas existentes na terra ou já extintas como astecas e até entidades egípcias. 

As cidades e ambientes brasileiros com suas desigualdades e injustiças,  exploração do ser humano em cenários urbanos e boêmios, os chamados ambientes perdidos segundo a visão de outras religiões  também contribuíram com trabalhadores dedicados a facilitar a vida dos encarnados que vivem situações semelhantes às que eles viveram. É o caso dos 'malandros',  e suas equivalentes femininas que foram prostitutas e exploradas representadas  pelas pombo-giras, as vítimas do feminicídio representada pelas entidades como a Rosa Caveira revelam uma alta tecnologia humana-espiritual que caracteriza a espiritualidade brasileira. 

NOTA 
 A partir daqui, incluo links (enlaces)  para vídeos  em canais do YoutubeDestaco o canal "Diálogo com os Espíritosde Jefferson Viscardi, brasileiro com nome de ascendência italiana que faz um trabalho magnífico de entrevistas com entidades do universo brasileiro-espiritual percorrendo terreiros de todo o Brasil.

Algumas experiências trágicas e dolorosas brasileiras nasceram das injustiças sociais e do abuso dos mais humildes. É o caso da experiência do Cangaço que possivelmente não necessite de muitas explicações para os brasileiros. No Cangaço se destacaram bandos de justiceiros. O bando de Virgulino Lampião e Maria Bonita 
sendo o mais conhecido. Lampião e seu bando foram mortos na manhâ do dia 29 de julho de 1938. Hoje na umbanda segundo essa alta tecnologia da espiritualidade brasileira, foi criado um grupo de trabalhadores chamado de cangaceiros que auxiliam os guias de pessoas desencarnadas ou vivendo em seu corpinho físico. A ideia do 
grande amor é que tem gente tão lisa que só um cangaceiro com seu olhar, com seu jeito de falar, com seu grito, pode ajudar a colocar nos trilhos. Em terreiros espalhados por todo o Brasil, os cangaceiros fazem atendimento e conversam com quem busca ajuda. Veja esta entrevista de Viscardi com o cangaceiro Corisco falando por meio do médio Pai Beto de Oxóssi.    
  
Ainda do povo simples 
O culto Xangô em Alagoas é o que poderia ser chamado por mim de minha base, minha tradição afro-brasileira pé-no-chão. De minha casa em Maceió, eu escutava tambores de xangô em todas as direções. Muito comum na minha vida mas pelo lado negativo está a tradição da Jurema e do Catimbó. Como a minha família foi convertida ao protestantismo minha relação com as duas linhas era de oposição e perseguição.Tudo o que era ruim, nesse grupo, era atribuído ao catimbó. Destaco também que foi na minha terra em 1912 que aconteceu uma perseguição com direito a ataques e destruição de coisas ligadas ao xangô que passou a história como a "quebra de xangô". A memória da data é alvo de campanhas contra a intolerância.

Dito isso, destaco que a formação afro-indígena-católica ligada ao universo sagrado da Jurema é muito bonita e parte disso pode ser visto neste documentário. É desta tradição que vem um dos principais expositores da falange ou grupo dos malandros: Seu Zé Pilintra. Diálogos com Zé Pilintra é o nome deste vídeo entrevista  por meio do médium Pai Francisco Borges (Outra entrevista com o seu Zé). 

Uma das lições (tarefa) para o brasileiro fazer em casa hoje, é livrar-se da intolerância e da falta de conhecimento junto com o desrespeito pelo que é seu, só seu e ampliar sua visão pois o Brasil, aquele onde "o que está em baixo se encontra ligado ao que está em cima" é muito, muito maior, maior do que as brigas herdadas da formação cultural euro-centralizada que pretende ser o Brasil. 

Pátria do Evangelho  - Vendo tudo o que estamos vendo acontecer no Brasil em termos de intolerância, conservadorismo, ódio, corrupção, exploração humana, roubo entre outros males me veio à  cabeça a frase: "Brasil Pátria do Evangelho". Escute bem: Brasil Pátria do Evangelho e não "Brasil Pátria dos Evangélicos". 
A frase é o título de um livro autografado (canalizado) por Francisco Cândido Xavier e ditado por Humberto de Campos (em outra dimensão ou no além) publicado pela Federação Espírita Brasileira. O livro narra a história do Brasil segundo o seu projeto sagrado bolado no mundo "extrafísico" e o desvio da missão ocorrido graças à ilusão do poder em casos como a escravidão de negros, escravidão de índios, golpes que dificultaram a educação do povo, favorecendo a desumanidade, a falta de solidariedade humana e outros males. Estamos todos no meio desse histórico desvio de "programação existencial coletiva". Sugiro a leitura do livro que pode ser verificado Aqui em PDF   ou em livrarias da Federação.  A primeira edição do livro é de 1938.

O Brasil foi pensado para ser o modelo de uma grande experiência humana mas a programação feita pela Luz para ele foi abandonada. Houve um desvio que, infelizmente, continua.  


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