Quem vier, de onde vier, que venha em paz!
(Texto republicado)
Escrevo nesta quarta-feira, 23 de março, noite de Lua Cheia do Cristo de 2016. Existem muitos Brasis - inclusive um deles que está em crise que é o Brasil criado à imagem e semelhança da Europa. Me refiro à herança religiosa, católica ou protestante, via Estados Unidos, nosso sistema de governo, econômico e financeiro, nossa cultura e idioma oficial entre outras coisas de origem e inspiração europeias.
Mas existe um Brasil misturado, construído de baixo para cima, por pessoas humildes e discriminadas pelo Brasil Europeu. É um Brasil que herdou uma espiritualidade que até hoje continua fora dos holofotes do Grande Brasil e que navega às margens (marginais) do talvegue (talweg) do Grande Rio da Existência Nacional, onde todos, sem exceção, navegamos em diferentes graus de consciência disso.
Experiências e técnicas sociais equivocadas de conquista, colonização e ocupação das terras do Novo Mundo utilizaram ferramentas mais equivocadas ainda. Uma delas, a mais dolorida foi a escravidão. De índígenas capturados, por exemplo, em terras do que hoje é Paraná e levados para as lavouras de São Paulo até o comércio de homens e mulheres capturados na África no que hoje conhecemos como o grande tráfico de escravos.
Dentro dos planos e contextos puramente humanos e terrestres, tudo isso foi um desastre social com consequências e resultados que se mantêm até os nossos dias na forma de desigualdades sociais, preconceitos, racismo, xenofobismo e intolerância. Destaco, que isso acontece no contexto "puramente humano", do lado não muito digno de elogio do "humano". Refiro-me ao humano no sentido de um ser encapsulado pela ilusão.
Entretanto, no contexto multidimensional, nesta dimensão e em outras, a situação do Brasil é diferente. A reunião desumana de homens e mulheres negros e negras de várias nações africanas forçou a existência de novas maneiras de se associar, de ver o mundo, de proteger, produzir, sobreviver e falar. Daí nasceram a capoeira, por exemplo, como uma dança e uma arte de defesa ligada à religiosidade africana misturada. Ocorreu a necessária reorganização das práticas das religiões africanas.
Os homens e mulheres livres da África trazidos para o Brasil foram jogados em terras que já tinham donos - as centenas de etnias nativas e originais conhecidas erroneamente como "índios". O encontro nem sempre foi pacífico mas africanos e originais tiveram que conviver com patrões e capatazes dominantes e construir toda uma relação de serviço e trabalho.
No lado espiritual da existência, ao contrário, dos afazeres terrestres e civis esta tragédia resultou em uma das maiores experiências religiosas do Planeta. O nascimento de uma religião brasileira. O catolicismo europeu trouxe uma visão de mundo europeia, um conceito europeu de Deus, de santos, santas e profetas.
O africano trouxe uma visão de mundo africana notadamente aquela baseada no culto aos Orixás. Os "índios" já tinham suas diferentes visões de mundo completas com histórias da criação, conceito de divindade, protetores, cura e uma ecologia espiritualizada que orientava a vivência.
A grande sacada do universo, da espiritualidade, do outro lado foi a aparição no planeta da "umbanda" - uma religião brasileira que adotou a visão do cristão, dos orixás dos africanos e abriu lugar na "espiritualidade" para trabalhadores de todas as raças e culturas existentes no Brasil. A espiritualidade brasileira no além é rica, diversa e solidifica o princípio do que foi dito: o que ligares na terra será ligado no céu.
Os trabalhadores, no além (além do físico), se juntaram em grupos dirigidos pela espiritualidade formado por diferentes grupos ex-humanos segundo as vivências que tiveram: índios e índias, caboclas e caboclos, boiadeiros, vaqueiros, escravos e escravas velhas, crianças e também de outras etnias e povos que se juntaram ao processo da criação e efetivação do Laboratório Brasil incluindo ciganos e ciganas, árabes, chineses, indianos, índios e índias da América do Sul, Central, do Norte e esquimós. Entraram também na lista trabalhadores de nações indígenas existentes na terra ou já extintas como astecas e até entidades egípcias.
A partir daqui, incluo links (enlaces) para vídeos em canais do Youtube. Destaco o canal "Diálogo com os Espíritos" de Jefferson Viscardi, brasileiro com nome de ascendência italiana que faz um trabalho magnífico de entrevistas com entidades do universo brasileiro-espiritual percorrendo terreiros de todo o Brasil.
Ainda do povo simples
Dito isso, destaco que a formação afro-indígena-católica ligada ao universo sagrado da Jurema é muito bonita e parte disso pode ser visto neste documentário. É desta tradição que vem um dos principais expositores da falange ou grupo dos malandros: Seu Zé Pilintra. Diálogos com Zé Pilintra é o nome deste vídeo entrevista por meio do médium Pai Francisco Borges (Outra entrevista com o seu Zé).
Uma das lições (tarefa) para o brasileiro fazer em casa hoje, é livrar-se da intolerância e da falta de conhecimento junto com o desrespeito pelo que é seu, só seu e ampliar sua visão pois o Brasil, aquele onde "o que está em baixo se encontra ligado ao que está em cima" é muito, muito maior, maior do que as brigas herdadas da formação cultural euro-centralizada que pretende ser o Brasil.
Pátria do Evangelho - Vendo tudo o que estamos vendo acontecer no Brasil em termos de intolerância, conservadorismo, ódio, corrupção, exploração humana, roubo entre outros males me veio à cabeça a frase: "Brasil Pátria do Evangelho". Escute bem: Brasil Pátria do Evangelho e não "Brasil Pátria dos Evangélicos".
O Brasil foi pensado para ser o modelo de uma grande experiência humana mas a programação feita pela Luz para ele foi abandonada. Houve um desvio que, infelizmente, continua.
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