Megatério, um antecessor da preguiça do tamanho de um elefante |
Porto Vitória, cidade de menos de 5 mil habitantes no Sul do Paraná cujo nome nasceu do cruzamento
dos nomes de Porto União (PR) e União da Vitória (SC) é uma das nove cidades que fazem parte da mais nova Região Turística do Paraná, a RT 15. Porto Vitória pode reivindicar para si o título de capital paranaense da paleontologia pois foi nela que em 1929, foi descoberta a ossada de uma preguiça gigante, animal batizado como "Megatério".
Os eventos que colocam Porto Vitória nessa categoria aconteceram entre 1929 e 1935. O que aconteceu foi o seguinte: em 1929 foi descoberto, nas terras de um colono alemão chamado Otto Bayer, os fósseis de um megatério ou preguiça gigante que viveu há, pelo menos 12 mil anos e que tinha o tamanho de um elefante. Mas foi só em 1935 que o biólogo e professor catarinense de Orleans (SC) Victor Stawiarski, ligado ao Museu Nacional no Rio de Janeiro chegou às terras de Bayer para escavar e analisar o material que mais tarde foi levado ao Rio de Janeiro.
Capa do Correio da Manhã (1957) com texto do professor Stawiarski: Pode a |
Neste texto, eu me limito a divulgar a experiência do professor Stawiarski tal como ele contou em artigo, assinado por, ele no Suplemento de Divulgação
Técnico-Científica do jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro de 8 de
setembro de 1957. O professor Stawiarski lembra o que aconteceu em 1935.
O texto do professor é parte de uma coluna chamada "Um pouco de Ciência". Chama a atenção a pergunta: Pode a mente antecipar acontecimentos? No caso do achado dos fósseis do megatério a resposta parece ser sim e parece ainda estar ligada à teimosia de uma das filhas do Sr Otto Bayer em encontrar um fóssil nas terras dele.
Nesta introdução vou republicar um trecho do artigo onde o professor Starwiarski conta o que aconteceu. Após uma introdução, ele lembra o que ele chama de diferentes elos da corrente que o levou aos fósseis de Porto Vitória. Ele conta:
O Primeiro Elo
"O primeiro elo desta cadeia foi uma carta que recebi de um cunhado residente no Paraná com a informação de que ele tinha tido como companheiro de viagem até Porto Vitória, próximo a Porto União, um alemão chamado Oto Bayer e que este senhor mencionou a existência de um grande fóssil, possivelmente um Megatério no seu quintal e apesar de ter escrito a muitos museus, nenhum se mostrara interessado em fazer a exploração. Perguntou então meu cunhado se eu como professor não me interessaria pelo caso.
Esta carta me chegou às mãos exatamente quando a febre dos fósseis estava no auge. Respondi imediatamente que a proposta me interessava imensamente e ofereci pelo direito de exploração todo o meu ordenado de um mês que era de mil cruzeiros.
De outubro (quando recebi a carta) a janeiro, a minha impaciência não tinha limite, cada dia que se passava aumentava a tensão nervosa. Até que em fim eu teria a oportunidade de mostrar aos meus alunos um fóssil importante de grande tamanho. Com ele deveriam cessar as dúvidas e objeções. Seria um grande momento, antecipava eu, a primeira aula em março de 1935, quando os alunos tivessem pela frente, ao lado do professor, os ossos de um animal pré-histórico maior que um elefante.
Surge o Segundo Elo
Em janeiro de 1935, juntamente com meus cunhados e sobrinhos fomos fazer a exploração do fóssil e fiquei conhecendo o segundo acontecimento, o segundo elo desta misteriosa cadeia.
O sr. Bayer era, antes da guerra de 1914, guarda-livros de uma grande fábrica de porcelanas em Berlim e ao mesmo tempo paleontologista amador. Com a guerra perdeu o emprego, a saúde e a mulher, tendo emigrado para o Brasil com suas filhas em 1923, localizando-se no Paraná próximo a União da Vitória. Da Europa só trouxeram além dos objetos estritamente pessoais, livros científicos. De quando em quando amigos enviavam revistas com a leitura das quais sabiam um pouco do que se passava no mundo.
Em 1928, lhes veio às mãos uma revista com a descrição de alguns fósseis (Dicinodontes e Scaphonis) encontrados no Rio Grande do sul e que eram importantes como prova auxiliar da veracidade da teoria do geólogo alemão Wegener* sobre a ligação terrestre entre a América do Sul, África e Índia em tempos remotos.
Após a leitura, a filha mais velha comentou com o pai: “Como seria bom se achássemos um fóssil desses em nosso quintal, nossos nomes sairiam nas revistas e talvez ganhássemos algum dinheiro”.
Impossível filha disse o sr. Bayer, nosso terreno fica na divisória de águas dos rios Jangada e Iguaçu e os fósseis são encontrados em locais que foram fundos de lagos.
Contudo a ideia de encontrar fósseis não largou mais a mente da filha. Dia e noite ela só pensava em fósseis numa verdadeira obsessão.
Otto Bauer conversa com visitantes no local da escavação |
História incrível
Certo dia ela abriu a porta de um pequeno chiqueiro a fim de que os dois porcos pudessem pastar um pouco e se banhar numa pequena sanga junto à casa. Enquanto os porcos se distraiam comendo, ela com uma varinha nas mãos pensava e pensava. De repente um dos porcos deu um grito e começou a fazer esforços violentos para libertar o focinho que ficara preso na barranca e num desses esforços consegue sair, mas com um objeto estranho em volta do focinho.
Como a moça estava exatamente pensando em fósseis, numa fração de segundos ela identificou o estranho objeto que envolvia o focinho do porco, como sendo uma grande vértebra. Por incrível coincidência o porco enfiara o focinho exatamente no canal medular de uma vértebra e ficara preso!
Derrubar o porco, tirar a vértebra que media quase 40 centímetros e sair correndo em busca do pai foi obra de um instante.
O sr Bayer julgou, no primeiro momento, que sua filha havia enlouquecido, mas diante da insistência dela, foi examinar o achado e logo explicou que era de fato a vértebra de uma grande animal mas que em virtude de sua constituição somente poderia ser de um mamífero e não de um dinossauro".
Resultados
A escavação foi um sucesso. Segundo a professora Tânia Mara Neubauer, do Colégio Estadual Casimiro de Abreu de Porto Vitória, todo o material coletado pelo professor Stawiarski saiu de Porto Vitória em 1935 levados de carroça até a vila, depois em barcas e posteriormente em carroças até o Rio de Janeiro onde ficou primeiramente no Gabinete de História Natural e mais tarde transferido ao Museu Nacional. "Eram 3 caixotes pesando cerca de 200 quilos, com uma tíbia com perônio, bacia, 16 vértebras, 20 costelas, um fêmur e mais 10 ossos, incluindo tarsianos", a professora deu esse esclarecimento ao jornal Tribuna SC que cobre o Balneário Camboriú, Itajaí e Navegantes.
Notas:
* O geólogo alemão a quem o autor se referiu é Alfred Lothar Wegener
** Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE 2013; da professora Tânia Mara Neubauer. Material publicado pela Produções Didático-Pedagógicas.
*** O blog Jackson Lima está à procura de informações sobre os descendente de Otto Bayer, o dono da terra onde o megatério foi descoberto.
Segunda Parte desta Postagem
Terceira Parte desta postagem
Conheça também Tadeusz Chrostowski, naturalista polonês que veio ao Brasil como colono e se estabeleceu em Vera Guarani parte de Antônio Olinto próximo a Porto Vitória.
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