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domingo, 18 de abril de 2021

Faz 92 anos: Colono alemão descobre fósseis de uma preguiça gigante no quintal de casa em Porto Vitória (1)

Megatério, um antecessor da preguiça do tamanho de um elefante

Porto Vitória, cidade de menos de 5 mil habitantes no Sul do Paraná  cujo nome nasceu do cruzamento dos nomes de Porto União (PR) e União da Vitória (SC) é uma das nove cidades que fazem parte da mais nova Região Turística do Paraná, a RT 15. Porto Vitória pode reivindicar para si o título de capital paranaense da paleontologia pois foi nela que em 1929, foi descoberta a ossada de uma preguiça gigante, animal batizado como "Megatério".   

Os eventos que colocam Porto Vitória nessa categoria aconteceram entre  1929 e 1935. O que aconteceu foi o seguinte: em 1929 foi descoberto, nas terras de um colono alemão chamado Otto Bayer, os fósseis de um megatério ou preguiça gigante que viveu há, pelo menos 12 mil anos e que tinha o tamanho de um elefante. Mas foi só em 1935 que o biólogo e professor catarinense de Orleans (SC) Victor Stawiarski, ligado ao Museu Nacional no Rio de Janeiro chegou às terras de Bayer para escavar e analisar o material que mais tarde foi levado ao Rio de Janeiro. 

Capa do Correio da Manhã (1957) com texto do professor Stawiarski: Pode a

Neste texto, eu me limito a divulgar a experiência do professor Stawiarski tal como ele contou em artigo, assinado por, ele no Suplemento de Divulgação Técnico-Científica do jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro de 8 de setembro de 1957. O professor Stawiarski lembra o que aconteceu em 1935.  

O texto do professor é parte de uma coluna chamada "Um pouco de Ciência". Chama a atenção a pergunta: Pode a mente antecipar acontecimentos? No caso do achado dos fósseis do megatério  a resposta parece ser sim e parece ainda estar ligada à teimosia de uma das filhas do Sr Otto Bayer em encontrar um fóssil nas terras dele.  

Nesta introdução vou republicar um trecho do artigo onde o professor Starwiarski conta o que aconteceu. Após uma introdução, ele lembra o que ele chama de diferentes elos da corrente que o levou aos fósseis de Porto Vitória. Ele conta:  

O Primeiro Elo

"O primeiro elo desta cadeia foi uma carta que recebi de um cunhado residente no Paraná com a informação de que ele tinha tido como companheiro de viagem até Porto Vitória, próximo a Porto União, um alemão chamado Oto Bayer e que este senhor mencionou a existência de um grande fóssil, possivelmente um Megatério no seu quintal e apesar de ter escrito a muitos museus, nenhum se mostrara interessado em fazer a exploração. Perguntou então meu cunhado se eu como professor não me interessaria pelo caso.

Esta carta me chegou às mãos exatamente quando a febre dos fósseis estava no auge. Respondi imediatamente que a proposta me interessava imensamente e ofereci pelo direito de exploração todo o meu ordenado de um mês que era de mil cruzeiros.

De outubro (quando recebi a carta) a janeiro, a minha impaciência não tinha limite, cada dia que se passava aumentava a tensão nervosa. Até que em fim eu teria a oportunidade de  mostrar aos meus alunos um fóssil importante de grande tamanho. Com ele deveriam cessar as dúvidas e objeções. Seria um grande momento, antecipava eu, a primeira aula em março de 1935, quando os alunos tivessem pela frente, ao lado do professor, os ossos de um animal pré-histórico maior que um elefante.

Surge o Segundo Elo

Em janeiro de 1935, juntamente com meus cunhados e sobrinhos fomos fazer a exploração do fóssil e fiquei conhecendo o segundo acontecimento, o segundo elo desta misteriosa cadeia.

O sr. Bayer era, antes da guerra de 1914, guarda-livros de uma grande fábrica de porcelanas em Berlim e ao mesmo tempo paleontologista amador. Com a guerra perdeu o emprego, a saúde e a mulher, tendo emigrado para o Brasil com suas filhas em 1923, localizando-se no Paraná próximo a União da Vitória. Da Europa só trouxeram além dos objetos estritamente pessoais, livros científicos. De quando em quando amigos enviavam revistas com a leitura das quais sabiam um pouco do que se passava no mundo.

Em 1928, lhes veio às mãos uma revista com a descrição de alguns fósseis (Dicinodontes e Scaphonis) encontrados no Rio Grande do sul e que eram importantes como prova auxiliar da veracidade da teoria do geólogo alemão Wegener* sobre a ligação terrestre entre a América do Sul, África e Índia em tempos remotos.     

Após a leitura, a filha mais velha comentou com o pai: “Como seria bom se achássemos um fóssil desses em nosso quintal, nossos nomes sairiam nas revistas e talvez ganhássemos algum dinheiro”.

Impossível filha disse o sr. Bayer, nosso terreno fica na divisória de águas dos rios Jangada e Iguaçu e os fósseis são encontrados em locais que foram fundos de lagos.

Contudo a ideia de encontrar fósseis não largou mais a mente da filha. Dia e noite ela só pensava em fósseis numa verdadeira obsessão.    

Otto Bauer conversa com visitantes no local da escavação

 

História incrível

Certo dia ela abriu a porta de um pequeno chiqueiro a fim de que os dois porcos pudessem pastar um pouco e se banhar numa pequena sanga junto à casa. Enquanto os porcos se distraiam comendo, ela com uma varinha nas mãos pensava e pensava. De repente um dos porcos deu um grito e começou a fazer esforços violentos para libertar o focinho que ficara preso na barranca e num desses esforços consegue sair, mas com um objeto estranho em volta do focinho.

Como a moça estava exatamente pensando em fósseis, numa fração de segundos ela identificou o estranho objeto que envolvia o focinho do porco, como sendo uma grande vértebra. Por incrível coincidência o porco enfiara o focinho exatamente no canal medular de uma vértebra e ficara preso!

Derrubar o porco, tirar a vértebra que media quase 40 centímetros e sair correndo em busca do pai foi obra de um instante.

O sr Bayer julgou, no primeiro momento, que sua filha havia enlouquecido, mas diante da insistência dela, foi examinar o achado e logo explicou que era de fato a vértebra de uma grande animal mas que em virtude de sua constituição somente poderia ser de um mamífero e não de um dinossauro". 

Resultados

A escavação foi um sucesso. Segundo a professora Tânia Mara Neubauer, do Colégio Estadual Casimiro de Abreu de Porto Vitória, todo o material coletado pelo professor Stawiarski saiu de Porto Vitória em 1935 levados de carroça até a vila, depois em barcas e posteriormente em carroças até o Rio de Janeiro onde ficou primeiramente no Gabinete de História Natural e mais tarde transferido ao Museu Nacional. "Eram 3 caixotes pesando cerca de 200 quilos, com uma tíbia com perônio, bacia, 16 vértebras, 20 costelas, um fêmur e mais 10 ossos, incluindo tarsianos", a professora deu esse esclarecimento ao jornal Tribuna SC que cobre o Balneário Camboriú, Itajaí e Navegantes. 

Notas:

   * O geólogo alemão a quem o autor se referiu é Alfred Lothar Wegener

** Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE 2013; da professora Tânia Mara Neubauer. Material publicado pela Produções Didático-Pedagógicas. 

*** O blog Jackson Lima está à procura de informações sobre os descendente de Otto Bayer, o dono da terra onde o megatério foi descoberto.  

Segunda Parte desta Postagem 

Terceira Parte desta postagem

Conheça também Tadeusz Chrostowski, naturalista polonês que veio ao Brasil como colono e se estabeleceu em Vera Guarani parte de Antônio Olinto próximo a Porto Vitória.


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