O texto abaixo é um de dois editoriais que escrevi para a Gazeta do Iguaçu no final de 2001. Eu gostei de reencontrá-los. Pô, eu era mais maluco na época! Preciso recuperar minha maluquice. Espero que você goste:
Editorial
As
Cataratas do Iguaçu são uma catedral. Mais sagradas do que a mais sagrada
catedral. Prova disso, é o domínio absoluto que as Cataratas exercem sobre
todos os mortais que a visitam. Ontem foi a vez de Bill Clinton. Quando nossa
reportagem pediu que o ex-presidente dos EUA, comparasse as Cataratas do Iguaçu
com as Cataratas de Niágara, ele respondeu: “incomparáveis”. Isso foi dito por
um norte-americano. Por um ex-presidente do país mais poderoso do mundo.
Com
a exceção do trade turístico local, com exceção dos administradores do turismo
local, o mundo todo reconhece a soberania incontestável das Cataratas do Iguaçu
no Reino das Águas do Planeta. Por que Clinton disse que Iguaçu e Niágara são incomparáveis?
Primeiro pela sua beleza. Iguaçu, a rainha, é uma Deusa natural. A natureza,
nelas, reina absoluta. As Cataratas reinam absolutas. Quem
quer que passe diante de sua glória, sai renovado. Aliviado. Com um grande
sorriso estampado no rosto. Por quê?
Porque
as Cataratas se bastam. Daí elas podem dar. Elas não necessitam que Eleanor
Roosevelt, Bill Clinton, Tony Blair ou qualquer outro ocupante temporário de
trono ou cadeiras presidenciais, venham dizer que são belas. Elas se bastam.
Elas sabem que são belas. São as únicas. É o visitante quem tem que estar
consciente de seu privilégio de render-se ao seu orvalho, seu vapor, seu
arco-íris.
E
então, por que a dificuldade de vendê-las no mundo? Sem dúvida não é uma
deficiência das Cataratas. É uma deficiência nossa, de todos aqueles que
moramos na Terra das Cataratas e especialmente daqueles que são responsáveis
pela sua divulgação. Falta-nos entender
que as Cataratas bastam-se a si mesmas. São bonitas e belas para si
próprias.
Falta-nos
desenvolver uma amor que queime; um amor que nos encha de um êxtase quase
religioso. É a espécie de amor que os guaranis sentem pelas Cataratas quando
celebram a “mandu’á porã”, a cerimônia da lembrança. Da lembrança dos tempos
velhos quando as Cataratas eram consideradas (pelos incivilizados) como uma
Deusa – um lugar sagrado.
É
este amor que devemos recuperar. Nós, os donos da casa, primeiro. Depois o
resto do mundo. Ao contrário nos vemos
hoje como uma cidade que vê as Cataratas como fonte de dinheiro. Só isso. Nós,
(civilizados) só vemos dinheiro nas quedas d’água. Por isso queremos tornar as
nossas Cataratas iguais as de Niágara. Sabe para quê? Para que um dia, um outro Clinton venha e
diga: não há diferença. As duas são iguais. As duas comercializadas. As duas foram
prostituídas. Nas duas, a Natureza foi reduzida. Nesse dia, até a nossa
“vantagem competitiva” terá se esvanecido.
9 setembro de 2013