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sexta-feira, 24 de abril de 2020

Os observadores de pássaros ou birdwatchers de Foz do Iguaçu: A cidade tem passarinheiros


Sugestão:
Um segmento do turismo a ser melhor trabalhado depois que o Coronavírus passar. Texto longo, deixe de preguiça!

Luciana Chiyo, Marcos Vinicius, Valeria Cachigian, Tiago Bonato, Paula Carvalho, à frente, o guia de aves Marcelo da Rocha
Em Foz do Iguaçu pelo menos um grupo comemorou o Dia das Aves em 5 de outubro do ano passado com uma saída para observar aves e pássaros no Parque Nacional do Iguaçu. O encontro na frente do portão do PNI foi às 05h30 de sábado que amanheceu nublado e com ameaça de pancada de chuvas.

Houve gente que queria ir mais cedo para aproveitar a escuridão e escutar corujas – e o que se chama “corujar”.  Foz do Iguaçu, com o Parque Nacional abrigando cerca de 400 espécies de pássaros, já tem um bom público local de observadores de aves. 




Marcos Vinicius
Alguns são biólogos, veterinários como Luciana Chiyo ou zoólogos como Ben Phalan responsável pela área de preservação do Parque das Aves. Mas há também administradores de empresas como Valéria Cachigian, historiadores como Paula Carvalho e Tiago Bonato, guias de turismo profissionais como Marcelo da Rocha e Marcos Vinicius especializados em observação de pássaros, estudantes de relações internacionais, jornalistas, fotógrafos e até chefs de cozinha.

Papagaios-verdadeiros atravessam a cidade
A observação é algo diferente para cada um segundo sua profissão. Biólogos, veterinários e ecólogos têm interesses científicos e profissionais o que inclui saber diagnosticar doenças e realizar cirurgias para reconstruir um bico de tucano, ou fazer uma cirurgia para retirar um anzol engolido por um martim-pescador resgatado pela Polícia Ambiental do Paaná e acolhido pelo Parque das Aves. Isso  aconteceu recentemente. Mas, uma vez na trilha para passarinhar, todos são membros de um hobby na natureza, um “esporte recreativo”, uma terapia e conexão com a natureza.

Muitos milhões de passarinheiros

Bradnee Chambers, secretário executivo da Convenção da Conservação de Espécies Migratórias de Animais Selvagens do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente lembrou que só nos Estados Unidos existem 60 milhões de observadores de pássaros. Porém a novidade de Chambers, é compartilhar a informação de que o “esporte recreativo” de observar pássaros é maior que alguns esportes nacionais dos EUA. 

De acordo com o Censo de 2009, 24 milhões de americanos jogam basquete, 23 milhões jogam baseball e 9 milhões jogam futebol americano. “Menos que os 60 milhões que se identificam como observadores de pássaros (os passarinheiros)”.  No Reino Unido, são 3 milhões de observadores acima de 15 anos. No Brasil está crescendo.


Os números do impacto econômico do hobby na economia são conhecidos e sempre são citados. Um estudo do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA mostra que os observadores de pássaros contribuíram US$ 36 bilhões para a economia dos Estados Unidos em 2009, hoje é mais.          
Além do que é gasto em hotéis, transporte, acomodação, alimentos e bebidas há também o que o observador de pássaros gasta na compra de equipamentos como câmeras, binóculos, lunetas, roupa especiais “com muitos bolsos”, garrafas térmicas, lanternas, gravadores, microfones, celulares de primeira com seus aplicativos, lembranças e souvenires, comida e livros, muitos livros.  São guias para aves de rapina, aves de banhado, aves marinhas, neotropicais por país e outros específicos como guia para identificação de gaviões em voo. Tudo gera muita renda e todo mundo ganha, governos em impostos e como é de se esperar empregos.


É nesse caminho que Foz do Iguaçu anda. Os passarinheiros de Foz do Iguaçu ainda não são muitos. Mas são muito mais do que se possa imaginar. Acrescentemos a isso as conexões e amizades que faz o número aumentar. Os passarinheiros de Foz, por exemplo, conhecem os colegas de hobby em lugares de observação em Curitiba, Morretes, Antonina e Paranaguá. 
E  outros já foram mais longe como Mato Grosso no Brasil, Paraguai e Uruguai. E essa comunicação ocorre nas duas direções. Morretes, por exemplo, com 429 espécies registradas é um paraíso de pássaros e lá há gente como o guia de aves Luciano Breves. O casal Ana Paula e Tiago, vieram morar em Foz e antes de sair de Curitiba receberam dicas de Breves sobre os profissionais de Foz, como o Marcelo e a Luciana Chiyo e assim a coisa se espalha.
Observadores chineses compartilham o
Parque Monjolo com moradores de Foz

Os chineses e suas lentes

Guia Marcelo Rocha: já sobrevive da profissão
A grande novidade em Foz do Iguaçu hoje é que a observação de pássaros não é algo imposto de fora e tampouco dirigido para o turista estrangeiro. “Há uma comunidade local que observa por prazer, por ter capturado o vírus da observação de aves”, explica Rocha. O passarinheiro internacional, o “birdwatcher” é bem-vindo e já há gente se preparando para atendê-lo em inglês. É o que Luciana Chiyo, chama de “guias de estrangeiros”, para quem o inglês é língua oficial.
Na discussão sobre para onde ir para ver pássaros muita coisa entra em consideração. Pássaros aquáticos? Migratórios? De Mata fechada? Tudo é discutido e os grupos de Foz se esforçam para saber onde encontrar as espécies procuradas.
Em uma conversação no whatsapp alguém elogia o esforço.  “Essa é a atitude correta, se organizar, descobrir caminhos e trilhas, catalogar as aves encontradas, marcando os pontos e depois divulgar nesse brasilzão o que de bom Foz oferece para os observadores de aves”.
E no quesito “marcar os pontos” e catalogar aves, a coisa é levada a sério. Alguém passando pela Avenida das Cataratas – via que liga o Centro às Cataratas –  viu um casal de Tangara palmarum (sanhaço-do-coqueiro) e compartilhou no grupo para confirmar. Marcelo, um dos guias de estrangeiros,  respondeu e além de confirmar que o palmarum é palmarum ainda disse “Esses dois sempre estão por aqui no bairro Vila Yolanda, perto do antigo Mercado Chemin. Eu só não tenho o endereço onde eles moram”.

O whatsapp é um meio de comunicação importante usado para marcar saídas, tirar dúvidas, compartilhar o que foi visto, avisar sobre a chegada de aves migratórias, lançamento de livros e aplicativos. É o que aconteceu com Chris Farias que avistou um bando de gaviões-pomba ou sovis em migração sobre Foz do Iguaçu e digitou: “Estão passando bandos enormes de Sovi (Ictinia plumbea) por aqui. Nunca vi tantos juntos. Devo ter avistado acho que mais de 200 desde hoje cedo, um espetáculo”, disse. Uma notícia dessa puxa outra. Recentemente quem voo sobre Foz do Iguaçu e o voo foi detectado pelo radar
ornitológico amador foi um bando de andorinhões das Cataratas (Cypseloides senex). A visão foi comunicada via whats app pela fotógrafa de pássaros e observadora Chris Farias.    



Observando aves com o nascer do sol, antes do horário do trabalho: Grupo do Parque das Aves

Grupo aumentando

Além do grupo iniciado pela iniciativa da veterinária Luciana Chiyo, há um grupo em formação independente mas ao redor do Parque das Aves. Participei de uma saída onde estava a equipe de comunicação do Visit Iguassu para "passarinhar" com o grupo orientado pelo tecnólogo ambiental e colaborador do Parque das Aves, Fabrício Vilela. Participaram a engenheira ambiental Barbara Perão, as biólogas Ana Luíza Cerqueira e  Jaqueline Alencar e o jornalista e fotógrafo Oscar Neto. Eles  estão elaborando um roteiro que começou, no dia, na árvore no estacionamento do Parque das Aves. Um passeio rápido entre as 06h30 e 8h que corresponde ao horário para aproveitar o hobby e aumentar o conhecimento antes de bater o cartão no Parque das Aves. 
Manhã fresca, luz boa, sol nascendo por cima do Parque Nacional do Iguaçu, a avistagem do dia foi boa: tiriba-de-testa-vermelha, avoantes, gaturamo-verdadeiro, pomba-asa-branca, juruva, araçari-poca, pica-pau-do-campo, periquito-maracanã, saíra-sete-cores, sanhaçu-cinzento, pula-pula e encontro. Sim, existe um passarinho chamado "encontro".  

Geografia Privilegiada
Outra vantagem da posição geográfica de Foz do Iguaçu é o contato com observadores da Argentina e do Paraguai. A Argentina, sede da Associação Ornitológica do Prata,  tem tradição em observação de aves e o Paraguai já possui uma base de organizações dedicadas como a Guyra Paraguay e Fundación Bertoni.
Isso facilita aos observadores de Foz do Iguaçu saberem noticias e conversarem sobre espécies vistas nos três lados da fronteira e organizarem saídas ao lado paraguaio. Blanca Soares, do Monumento Científico Moisés Bertoni em Presidente Franco no Paraguai, contou que das 700 espécies de aves do Paraguai, 350 foram identificadas pelo filho de Moisés Bertoni e sete delas são endêmicas da reserva florestal do Monumento Científico. Os contatos com observadores e entidades das três fronteiras faz de Foz do Iguaçu um centro importante para observação no Paraná, no Parque Nacional Iguazú, Argentina e outras reservas e no Paraguai em lugares como a Reserva Natural e da Biosfera Bosque Mbaracayú.  

A saída do Dia da Ave
No dia da saída ao Parque Nacional, com permissão do ICMBio, ao longo da Trilha do Poço Preto, o céu estava nublado, a luz não era boa e os pássaros não estavam voando muito. Mas nem só de "ver" aves vive o passarinheiro na trilha. Escutar é muito importante. Os guias profissionais, dois nessa saída, Marcelo e Marcos, identificavam pelo canto quem estava cantando. A experiência é contagiosa. 
Há meses não chovia na região e nesse dia estava previsto chuvas com trovoada. “Os pássaros devem estar sentindo alguma coisa na pressão atmosférica”, sugeriu Marcos Vinicius, com experiência no atendimento de passarinheiros estrangeiros.    

Mesmo em um dia calmo, os observadores registraram a presença do pavó, sovi, surucuá, arapaçu e pula-pula. Mesmo no asfalto, em direção ao estacionamento, parte do grupo permaneceu por quase uma hora. O motivo foi a avistagem de um gavião sovi (Ictinea plumbea) ou gavião sauveiro voando sobre a avenida (Br-469) movimentada carregando no bico um graveto. 

“Sovi carregando um graveto. Deve estar construindo um ninho”, sugeriu um dos observadores. Primeiro posou em uma árvore, para se organizar e em seguida decolou para outra não muito longe dali. Os binóculos se dirigiram ao local do pouso. Sem acreditar, os observadores descobriram que um ninho já estava pronto e por isso com filhotes.
A visão de um pavó (Pyroderus scutatus), uma ave da família das cotingas com cores vivas branco, na maior parte do corpo, vermelho no rosto e uma mancha preta ao redor  dos olhos foi uma das grandes visões do dia.

Surpresas nas ruas
Além de muitos papagaios e periquitos voando livres nos céus de Foz do Iguaçu, quem presta atenção na vida selvagem em Foz do Iguaçu sempre se surpreende. Há registros de amantes de aves terem visto um pato crioulo passar voando por cima da Avenida Brasil na direção do rio Paraná. Ou de grupos de turistas curiosos acompanhado um casal de araçaris-banana pousado nas palmeiras da esquina da Avenida Brasil e Jorge Schimmelpfeng. Tucanos também dão ares de sua presença na principal avenida da cidade.
Esse urutau se acha perfeitamente camuflado no centro de Foz do Iguaçu
Quero-queros, joãos-de-barro e esquadrilhas de pica-paus-do-campo aparecem em terrenos baldios de áreas mais ao leste da cidade. Porém, o que parou o trânsito e fez juntar gente foi a aparição de um urutau (mãe-da-lua), de novo na Avenida Brasil, em plena luz do dia, pousado sobre uma lixeira na frente da Secretaria Municipal da Saúde. Por sinal, nessa semana choveram alertas da presença de urutaus na cidade.


As andorinhas que escolheram o condomínio 

Recentemente, uma moradora de um condomínio pioneiro em Foz do Iguaçu mandou para a TV local (RPC Foz) um vídeo  de uma "invasão" de andorinhas. Logo o whatsapp do grupo de passarinheiros estava pipocando de alertas. Muita gente foi lá para observar as andorinhas. "Eles baixam às 19h30 e logo fazem uma revoada e se dirigem para um única árvore na área do condomínio. Quem quiser ver, deve chegar às 19h", dizia a mensagem assinada por Ben Phalan. Em um dia estive lá para ver as andorinhas. O bairro inteiro sabia do trânsito de andorinhas. Logo elas levantam voo e partem. A extensa rede de passarinheiros vai acompanhando. Daqui a uns dias, quando o tempo esquentar no norte alguém vai postar: as andorinhas passaram pelo Mato Grosso (se não houver queimadas). Os moradores do condomínio colaboraram com a paciência necessária de sempre ver gente na frene do condomínio, curujando. Os moradores do bairro também participaram contando aos observadores o que já haviam visto ou não haviam visto.        


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