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terça-feira, 19 de maio de 2020

Está nascendo um novo hobby chamado "waterfalling". É diferente de cachoeirismo

Uma das muitas cachoeiras no Cânion Guartelá (PR), Campos Gerais

Para os amantes mundiais de Cataratas e Cachoeiras, saber identificar os tipos diferentes de quedas d’água ajuda a descrever, identificar e apreciar melhor a visita a esta paisagem comum e especial do Planeta presentes em todos os continentes. Muita gente já viaja para "cataratear" ou "cachoeirar".  
Para o "catarateador" sério, dependendo de como a água cai, as quedas d’água recebem diferentes classificações.
Kayak Fishing, hobby da pesca em caiaque (watersportsfirst.com)

Hobby da observação de aves em kayak. Fotógrafo Carlton Ward Jr /Mac Stone Audubon

O Brasil já começou a assimilar o que significa “birdwatching” – o hobby de observar pássaros ou "passarinhar". Há outros hobbies e esportes interessantes que viciam e levam milhões a viajar como o rafting, o cachoeirismo (o esporte de descer cachoeiras com a ajuda de cordas e técnicas); o rapel, o paraquedismo ou skydiving (esporte especializado em se divertir usando o paraquedas originalmente um equipamento militar);  kayaking (o hobby de quem ama explorar o mundo de caiaque), o kayak fishing (o esporte da pesca em caiaques); o kayak paddle birding ou kayak birdwatching ou passarinhar de kayak ou caiaque e ainda o sea kayaking que é o hobby de explorar o mundo abordo de um caiaque de mar. E o que é waterfalling (Cataratear ou cachoeirar)?

Todos esses hobbies, são realizados por profissionais e por amadores. A novidade e a razão de existência desta postagem é anunciar o “waterfalling” que é o mais novo desses hobbies e que atrai aquelas pessoas dispostas a bater pernas pelo mundo para ver quedas d’água, cachoeiras e cataratas. Com esse nome, o "waterfalling" é uma criação americana. Difere do cachoeirismo já praticado no Brasil e disponível inclusive em Foz do Iguaçu no caso do Cachoeirismo do Macuco Safari. Quem faz “waterfalling” não precisa ser atleta e escalar cachoeiras. É uma questão de amor: bastando olhar, bastando contemplar para que o amante de cachoeiras se sinta recompensado.

Se ser um “waterfaller” (quem pratica o waterfalling) é uma questão de amor por queda d’água, esse amor exige conhecimento de cachoeiras. Não é exatamente o  conhecimento científico ligado à geologia que se interessa pelas rochas sobre as quais a água desliza antes de lançar-se no precipício; a  geomorfologia que se interessa pelas formas que as rochas assumem devido a esse contato com a água ou ainda a hidrogeomorfologia que se interessa pela água, pelas rochas e pelas formas dessas rochas ou do terreno.

O “waterfaller” presta atenção nas “differentes variações e sutilezas de como a água flui sobre o leito rochoso” e ainda  como cai na “falha” geológica em seu caminho. Para os especialistas em quedas d’água há pelo menos 10 tipos delas. A jornalista, fotógrafa, naturalista e “waterfaller” (catarateadora) americana Jaymi Heimbuch sugere a existência de 12 a 18 tipos diferentes de quedas d’água dependendo somente de quão específico o observador quer ser em sua descrição delas”, escreve.

"Uma única queda d’água pode encaixar-se em múltiplas categorias em dado momento, do mesmo jeito que essa categoria pode mudar ao longo do tempo, estações, erosão, eventos climáticos e outros fatores”, diz Jaymi.

Cataratas de Vitória, cai em bloco. A ponte separa Zimbábue e Zâmbia. A ponte é vista na direção Zâmbia-Zimbábue (African Budget Safaris)

Em inglês e sob o comando dos “Waterfall Lovers” (Amantes das Cataratas), as diferentes cataratas e cachoeiras são classificadas como do tipo (1) “poncheira” (punchbowl), aquelas que ao cair lembram a maneira em que se derrama líquido de uma tigela de onde o ponto de partida é mais larga do que a área do percurso. No final da queda, o liquido gera certa turbulência. A água cava poços, que podem ser violentos. Em épocas de baixa vazão, o poço desde que seja pequeno pode lembrar piscinas ou jacuzzis. Várias dessas “jacuzzis” podem ser observadas por quem está na passarela do lado brasileiro, observando a região do paredão a partir do Salto Três Moqueteiros.
O estilo (2) “megulho” (plunge), são as cachoeiras que se projetam para a frente lembrando alguém que salta de um trampolim. Esses saltos ao caírem não fazem o contato com o paredão vertical rochoso dela. Muita delas lembram forma rabo de cavalo e véu de noiva.  

Há ainda (3) as quedas d’água ou saltos multi-etapas ou que lembram a forma de um organograma: o salto é um só no primeiro nível, passar a ser dois no segundo nível, três ou mais saltos no nível inferior –  etapas que lembram o formato de um organograma. As quedas d’água (4) rabo-de-cavalo (Horsetail) e as cachoeiras em (5) forma de leques (Fan Waterfalls) são parecidas já que são estreitas no topo e se abrem próximo à base. O detalhe fica no grau de conato da água com o paredão da queda que embora seja vertical não deixa de ser o leito dela.

(6) Queda d’Água estilo Cascata” (Cascade Waterfall) uma série de saltos que caem de forma segmentada ou múltiplas etapas  ao longo de vários degraus. As Cataratas do Iguaçu, vista como um conjunto de quedas d’água é uma cataratas nesse formato. (7) Queda d’Água estilo Leque  é parecida com a variedade “mergulho” mas a água mantêm contato com a parede, (8) Queda d’Água Segmentada, são aquelas em que a água divide o percurso da queda em segmentos diferentes tanto vertical como horizontalmente falando(9); Queda d’Água Tobogã (Slide Waterfall, são as quedas que deslizam sobre o leito rochoso com inclinação mais moderadas (10) Queda d’Água Costeira (Tide Waterfall) são aquelas que desembocam em uma praia ou no mar (rara no Brasil). (11) Queda d’Água Congelada também muito rara no Brasil e se limitam a períodos de muita neve, no caso de Niágara e outras e em tempos de geada intensa em pequenas quedas d’água no Brasil (12) Queda d’Água estilo “Moulin” , só para constar são aquelas localizadas em geleiras e glaciais e (13) Cataratas em bloco. 

Pequeno salto deslizando no estilo "tobogã" nas Cataratas do Iguaçu

Há dois tipos de cataratas: as do tipo “em bloco” e as “cataratas cascatas” ou seja cataratas verdadeiras, para lembrar a maneira indígena de dar nomes como papagaio verdadeiro. As Cataratas do Iguaçu são do estilo “cascata” já que é formada por uma quantidade impressionante de saltos, com certeza muito mais de 200, já que o que caracteriza um salto independente foge de deifinição. Já Niágara é do tipo “bloco” pois ela cai de frente, o rio inteiro despenca de frente formando três quedas individualizadas: horseshoe (Canadense) American (EUA) e Véu da Noiva também no lado EUA da "garganta".

Niágara, Cataratas que cai em dois blocos, EUA à direita, Canadá, ao fundo  

Porém, as Cataratas do Iguaçu tem seções, saltos individuais e conjuntos de saltos que pertencem às diferentes variedades. Tudo isso dependendo da vazão. Em tempo de enchente é necessário criar uma nova categoria: a do assombro generalizado já que todos os saltos viram um só bloco que explode, treme, fumaça, sacode e congela os sentidos. 

As Cataratas do Iguaçu 

Iguaçu/Iguazú: definitivamente não cai em bloco (National Geographic) 

Reinando absoluta entre as “Quedas d’Água estilo Cataratas”, ao ponto de ostentar o título de “o Maior Conjunto de Quedas d’Água do Mundo”, as Cataratas do Iguaçu tem a particularidade de ter, em si, saltos que podem ser classificados na maioria dessas categorias com a exceção dos tipos de número 10, 11 e 12 na lista: a saber a Costeira que despejam suas águas diretamente no mar ou praia e as “congeladas” como Niágara no inverno do Norte e o tipo “Moulin” que ocorrem em glaciares.        

Como Iguaçu é "uma" cataratas com um número fantástico de saltos, os “waterfall lovers” de todo mundo não deverão se surpreender com o fato de que as Cataratas do Iguaçu, em si, contenha uma diversidade impressionante de saltos que podem ser classificados nos diferentes tipos de queda d’água no mundo de acordo com as diferentes variações e sutilezas de como a água flui sobre a borda do penhasco e sua relação com seu leito vertical até a base. 

A Garganta do Diabo, um salto maior que muitas Cataratas

Como desce a água? Ela vem fluindo lentamente e escorrega redondamente a borda do penhasco? Ou ela vem descendo agitadamente e salta a borda como se quisesse cair o mais longe possível da base?

Nesse caso a Garganta do Diabo, vista de longe parece ser uma queda em bloco, especialmente a porção dela que vem do canal principal na direção Brasil-Argentina. O Salto San Martín tem a cara de uma Queda d’Água Segmentada. Ele cai em três níveis. No primeiro ele vem reto na direção do cânion; no segundo muda de direção, rumando à direita, após encontrar a Ilha do mesmo nome. Os “waterfallers” podem ver nele aspectos de queda d’água em bloco, de Queda d’Água Segmentada, no segundo nível misturado com Queda d’Água Tobogã até encontrar o rio.

O Salto Rivadavia, na Argentina (visto do Brasil) começa em forma de bloco no primeiro nível ou degrau e no trajeto do segundo nível para o cânion tem características de Queda d’Água Segmentada com parte dos saltos na categoria rabo-de-cavalo e o estilo em Leque.

No lado brasileiro, o primeiro nível dos Saltos Floriano e Deodoro se aproximam do precipício em bloco, caem em bloco, passam sob a passarela brasileira na área do elevador, viajando, deslizando e se jogam  no rio Iguaçu como um salto em várias categorias. Pelo menos sete saltos menores caem no rio sob o nome coletivo de Salto Santa Maria em formatos que lembram o rabo de cavalo, o leque que se abre até o final mantendo pouco contato com a rocha e outras que escorregam sobre a rocha no estilo tobogã. Como disse, isso não é ciência. É mais um hobby, assim como "plane spotting", aquele "esporte" que leva gente do mundo todo para os aeroportos para ver e registrar a presença de aviões, fotografá-los e curtir momentos prazerosos com suas galeras.

Salto Monday, Paraguai

Salto Monday. Com a vazão alta, divisão entre os blocos desaparecem. (Vera Scuderi, Wikipedia / Atlas Obscura)



Com a vazão média

Se as Cataratas do Salto Monday estivessem no Qatar, receberia tratamento de rainha e teria sido divulgada como uma Maravilha da Natureza. Atrairia a atenção do mundo e seria amplamente conhecidas. Mas como o Salto ou melhor os Saltos do Rio Monday, no Paraguai, estão na redondeza das Cataratas do Iguaçu, são relegados a um segundo plano na agenda do turismo local e dos destinos.

O rio Monday percorre cerca de 200 quilômetros desde suas nascentes nas serras do Departamento de Gaaguazu até a desembocadura no Rio Paraná, um pouco abaixo do Marco das Três Fronteiras e um pouco acima de Puerto Bertoni para quem está no Paraguai. A vazão média dele é de 100 metros cúbicos por segundo. Os saltos paraguaios caem em três blocos (bloco da esquerda (1) , central (2) e bloco da direita (3). O Salto Monday se encontra na cidade de Puerto Franco, em frente a Foz do Iguaçu. É a cidade que abrigará a cabeceira paraguaia da Ponte Internacional da Integração em construção entre Brasil e Paraguai, popularmente conhecida como a "Segunda Ponte". Mais informação sobre o Salto Monday será desponiblizada em breve após mais visitas e observação.

Foz do Monday - Desembocadura do rio Monday no Paraná

Quer conferir?
Artigo e galeria de Jaymi Heimbuch  
Site World of Waterfalls          
Especial sobre Quedas d'Água da National Geographic
 

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